Algo sobre música & propaganda…

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E aí galera??? Vou pedir licença aos papos extremamente técnicos que sempre levamos por aqui e falar sobre um assunto de caráter muito pessoal… Postei isso em rede social, mas acho que vale a pena esse texto habitar o blog, pois afeta diretamente o universo do áudio!!!…

Há muito tempo no meu bom e velho radinho de pilhas do quarto, rolava um programa com o título “Jingles Inesquecíveis”, que era apresentado por Lula Vieira na CBN… Com todo o respeito que tenho pela música na publicidade e pelos profissionais (e grandes amigos) de criação envolvidos em trilhas e jingles, confesso que deu uma imensa saudade das composições que um dia eu vi sair de um Sá & Guarabyra, nos anos dourados do Vice-Versa, Walter Santos & Tereza Sousa no Nossoestúdio, César das Mercês, Thomas Roth entre vários outros magos da composição publicitária, em seus pedaços de papel de pão e fitinhas cassete!!!

Uma noite dessas, em um grupo de discussão online, havia uma mensagem de um estudante dizendo que a mídia evoluiu e que os tempos são outros… Poxa, multimídia e evolução significam que a música tem que ser coadjuvante e não ter mais o “peso” que sempre teve??? Eu tenho pena de quem pensa assim… É só ligar o rádio e contar nos dedos o que vai ficar e o que vai passar batido na publicidade hoje em dia…

Sem generalizar, é claro, ninguém me convence que o jingle já era, e eu tenho pena de algumas opiniões desse tipo em fórum de internet!!!… Quem disse que um jingle classudo não empurra uma campanha ou um filme de ponta??? Quanto a trilhas, já vi caras com o calibre de um Armando Ferrante, Chiquinho de Moraes ou um Ruriá Duprat virarem 48 horas dentro de um estúdio entre composição, arregimentação e gravação de uma trilha e em dois dias recolocarem uma orquestra inteira no estúdio para aprimorar o resultado final… Me perdoem, mas a peça não precisa ser tosca ao extremo pra funcionar!!!…

A quantidade de gente extremamente competente no mercado, que eu não citei aqui porque seria interminável a lista, e que (graças ao CARA lá de cima) ainda existe no mercado, não combina com a maioria das coisas que escuto todos os dias nas rádios e TVs… Uma pena!!!

Sem contar a briga saudável pela melhor sonoridade, o que era extremamente saudável e forçava a galera da engenharia a focar na excelência no resultado final, muitas vezes com trilhas soando muito maiores do que os álbuns da moda!!!… Nossas referencias de mixagem eram John Williams, Michael Jackson, David Foster, e muitos outros, dependendo do foco da campanha… Era pesada nossa responsabilidade como engenheiros!!!

Participei, por exemplo, durante gratificantes quatro anos do Projeto “Gente Que Faz” do extinto banco Bamerindus, onde o Nossoestúdio dava um banho de criação em trilhas inéditas e semanais de três minutos de duração, gravada só com músicos ao vivo, em uma SSL 4000G+, em uma Studer A827 com Dolby SR, só para citar um exemplo clássico, entre centenas de peças e estúdios comprometidos com o que ia pro ar!!!… Por favor, enquanto fico na frente da TV ou do rádio torcendo pra que algo soe pelo menos interessante, alguém me explique que relação essa explícita queda de qualidade na música publicitária tem a ver com evolução!!!???…

Novos tempos???… Pode ser… Mas, pelo menos pra mim, tristes!!!

Abraços!!!

O pioneirismo de “A Chorus Line”…

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Mais um post direto do túnel do tempo… São Paulo, 1983: em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso o musical Chorus Line, sem discussão um pioneirismo total nos grandes musicais apresentados no Brasil fazia história…

A produção, capitaneada pelo mestre Walter Clark, não mediu esforços para tornar realidade o sonho dessa montagem por aqui. Chorus Line, com texto original de James Kirkwood & Nicholas Dante, concepção, coreografia e direção original de Michael Bennett, revelou muitos nomes de talento que deram muito sangue, suor e dedicação a suas interpretações: Accacio Gonçalves (Zach), J.C.Violla (Paul), Cláudia Raia (Sheila), Márcia Albuquerque (Laura), Rita Malot (Judy), Guilherme Leme (Al), Heloísa Millet (Diana), George Otto (Don), entre muitos outros.

Com tradução de Millôr Fernandes e direção e coreografia de Roy Smith, foram quase 200 apresentações (acompanhadas por uma banda de 23 músicos sob a direção de Murilo Alvarenga) que deixaram muita saudade em todos nós envolvidos na produção!!!
Quem vê a tecnologia de áudio empregada nos musicais de hoje jamais poderá imaginar nosso trabalho pra botar o Chorus no ar em 1983, com um PA de rock’n’roll do Paulo Valadares (Val & Val), sem um único microfone especial ou equipamento específico pra isso, muito menos in-ears e consoles digitais!!!… Absolutamente “autonamão”!!!…

A supervisão de áudio era do Carlos Ronconi e a mixagem final minha e do Hamilton “Mica” Griecco. O Micca pilotava a orquestra do Murilão, literalmente mergulhada no fosso e a master final, enquanto eu ralava duas horas seguidas com nove microfones de voz espalhados pelo palco (e mais quatro fora do palco), correndo atrás dos atores/bailarinos e monitorando isso com dois sides no palco e algumas poucas vias de phones para a orquestra e a cabine de vocais das pessoas que não estavam em cena…

Realmente esse foi um grande projeto do Walter Clark, associado ao José Octávio de Castro Neves e ao J.Arce. Demos tudo o que tínhamos na época para contribuir e somar esforços nessa empreitada, e entre erros e acertos o resultado foi, com certeza, muito gratificante!!!…

Até o próximo!!!