Sem generalizar, é claro, e dentro da mais explícita ética, não podemos ignorar a presença cada vez mais forte da “pendrive generation” no mercado do áudio… Na minha humilde opinião, a quantidade de mordomias tecnológicas que sempre sonhamos nos tempos dos mapas de palco feitos em Xerox dos módulos das mesas, e que chegaram muito rápido ao mundinho insano do áudio, nos apresentou uma escalação de gente muito talentosa, mas ao mesmo tempo uma outra, com um pouco menos de discernimento…
Vamos pular o Universo da gravação, onde não é impossível ouvirmos a pergunta “que tipo de música esse cara canta???” no dia da gravação do “fagote”, e nos reportar apenas ao stage…
No inicio dos anos 80, quando na minha ansiedade de moleque, já pilotando no estúdio Vice-Versa, e já tomando muito tapa na orelha do Luiz Botelho e do Vinicão, para que nunca e em nenhum outro tempo falasse na primeira pessoa do singular e estudasse em todos os seus parágrafos o “The Recording Studio Handbook” (John M. Woram), ficou bem claro o caminho a seguir antes de viajar equivocadamente no “glamour” da profissão… Informação e saber o meu lugar no mercado eram as regras básicas e obrigatórias!!!
Foi nessa época que comecei a conviver com caras como (além dos já citados Luiz Botelho e Marcus Vinicius) Wilson “Kabeleira” Gonçalves, Ricardo “Franja” Carvalheira, entre outros que faziam chover no live, mas eu quero citar um em especial, que foi meu mestre absoluto no stage; “Sir” Vitor Correa, o maior Engenheiro de Monitor desse país… O que eu vi esse maluco fazer com quatro vias e 16 canais de input me empurrou definitivamente pra cada detalhe de uma boa mix ao vivo… Conhecer a banda, saber as ferramentas disponíveis em cada evento e, o principal, “fazer o básico, bem feito!!!”…
Eu agradeço todos os dias ter conhecido a postura e o dia a dia desses malucos, porque até hoje utilizo cada minuto dessa convivência para aprimorar meu som e filtrar meu dia a dia… Eu imagino, por exemplo, alguém da “pendrive generation” trabalhando um dia sob a batuta do mestre Pena Schmidt e a paranoia saudável de não errar da Stage Brainz nos stages do Free Jazz, entre outros!!!…
O comprometimento com o áudio vai muito além de equalizar “com os olhos” e rejeitar consoles porque não tem uma tela enorme, entre outros absurdos… Vai muito além de fazer vinte e cinco shows por mês e atropelar profissionais a qualquer preço numa concorrência desleal jamais vista no mercado… Na verdade, o próprio mercado ditou essas regras, e tem muita gente que embarcou nesse Titanic…
Quem está no mercado há anos está, e nada vai mudar… Penso exclusivamente nas novas gerações… Deve ser desesperador o encontro das possibilidades master de informação contra os caminhos nem sempre éticos que o mercado oferece… É a banalização do áudio, literalmente!!!… É explicito o dano que isso anda causando na mão de obra, na postura, no discernimento, nos valores cobrados… Uma pena!!! Enfim, um assunto delicado e longo, que balança egos e comportamentos…
Muita história ainda vai rolar, mas é a hora de repensar os caminhos, como eu disse no início do post, sempre dentro de uma explícita ética, pois a culpa pode não ser apenas dos “pendrivers” para um prejuízo tão extenso!!! … Na verdade todos estão aí… Só façam a escolha certa… Usem todas as mesas disponíveis, todos os monitores, todos os ears… Façam das suas mixes uma festa e dos pendrives apenas uma ferramenta de arquivo!!!… É por isso que estamos aqui… A Paixão pelo áudio bem feito!!!
Bom, “that´s all folks”…
Abraços!!!
Curta, mas muito boa a matéria Paulo!
Tb sou do tempo do Pena Schimdt, do Roberto Ramos, e do Cesar Castanho, (primeiro Free Jazz Festival, Hotel Nacional do Rio).
O CEAATEC alem de uma produtora é uma escola de áudio, e a primeira coisa que ensinamos é fechar os olhos e abrir os ouvidos! Procuramos ensinar os alunos a identificar frequencias, envoltória dinamica e ambientes, para isso fazemos eles treinarem os ouvidos até a exaustão, para quando pegarem o prático buscarem ferramentas certas para obterem resultados mais rápidos e melhores! Fico imaginando um aluno nosso “espetando” uma pen drive e operar o sistema a partir de uma cena feita por outro técnico. Não acredito que eles ( os alunos) se contentarão com isso! Vão buscar a sonoridade da banda!
Acredito que essa geração pen drive, nada mais é que o restício de “técnicos” que mal conseguiam dominar o sistema analógico e de repente se viram diante do digital, claro que a maioria se acomodou nas facilidades dos recursos de total recall e acreditam que sua cena TEM de ser igual independente do console/controladora e nem sequer imaginam que existam diferenças nos processadores, prés e plugins! E ainda demandam certo modelo ou marca porque ” a cena e o patch gravada no pen drive ” só abre naquela mesa! E daí vem o desespero de ter de sair do zero em uma console desconhecida e fazer pior do que tem feito! Ou no pior das hipóteses, errar no patch e nem sair som da mesa!!
Acredito que essa geração terá vida curta, ou eles se enquadram e buscam conhecimento ou morrem na praia!
Muito bom este post mestre,tem muitos técnicos hj nas redes sociais criticando o uso do pen drive,eu sou do tempo do análogo também,e acho esta ferramenta muito Importante para facilitar nossos trabalho de edição,e não acho que uma pessoa que não é comprometida com o áudio possa roubar sua cena pois lá esta a textura do genero musical e sua inspiração,e isso não se rouba e nao se copia…abraço irmão.